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18/12/23

A grafologia e educação (1)


 

Sobre este tema vou publicar  quatro artigos relacionados com as caraterísticas da escrita de António, sua interpretação e atitudes a desenvolver

António e a sua escrita

 

António (nome fictício) tem 14 anos e frequenta  o 6º ano de escolaridade.

O seu bigode já despontou. Ficou retido duas vezes: uma no 1º ano de escolaridade e outra no 5º ano.

É teimoso, lento, distraído, verbalmente agressivo e pouco estudioso. Por vezes, chega a ser indisciplinado e desobediente.

António não gosta da escola, porque as “aulas são uma chatice, muito lentas e pouco animadas”, “os professores são duma certa idade, não aceitam uma brincadeira, é mesmo por isso que eu não gosto destas escolas”, “não gosto de ficar preso, nem de acordar cedo”.

Tem fraco aproveitamento escolar, com resultados negativos no 1º e 2ºperíodos de avaliação. Lê e escreve com bastantes incorreções. Sente-se, naturalmente, desmotivado. É nervoso e não consegue estar quieto na cadeira.

Gosta de “andar de bicicleta, de mota ou de cavalo e fazer campismo.”

Gosta de liberdade e de sair de casa.

 No 5º ano de escolaridade,  António omitia várias letras, fazia o “m” semelhante ao “n”, confundia “o” a com o “e”, o “q” com o “c”, o “b” com o “v”, o “l” com o “lh”, trocava  até uma letra do seu apelido.

 Certo dia, fiquei na sala a conversar com um aluno da sua turma e, ele, em vez de sair, escondeu-se na arrecadação para  ouvir a conversa.

 A diretora de turma informou-me que lhe tinham apresentado queixa do António por andar a apalpar as colegas. Parece extrovertido, mas fecha-se muito.  Pois, nos intervalos  passa o tempo ao pé dos funcionários e em vez de ir brincar com o grupo. É medroso, mas faz bastantes ameaças. Está desmotivado e distraído, liga pouco às aulas.

Através da análise da sua escrita irei procurar detetar alguns indícios do fraco desempenho escolar e do comportamento do António. 

 A sua mãe que explora um café nas proximidades da escola, confessou  que, quando o filho nasceu, tomava muito cafés e andava agitada.

O António não dorme o suficiente. Deita-se depois da meia noite, ficando com a mãe no café até este encerrar, e levanta-se sempre às 07,30 da manhã. O pai está muitas vezes ausente. Ambos têm uma imagem negativa da escola e dos professores, o que não ajuda nada o desempenho do filho.  A escola que ature o filho, porque ela (a mãe) tem a sua vida.

 A diretora de turma – confessa a mãe – está sempre a chateá-la para que vá à escola falar com ela.

Reconhece que o filho é muito nervoso e tímido e que os professores não têm sabido levá-lo com jeito. Quando ele está mal disposto, não obedece a ninguém e não vale a pena insistir.

 

Disgráfico e disléxico

 Num texto livre que escreveu sobre as férias de verão, encontrei caraterísticas relevantes para a compreensão da sua personalidade.

 António é esquerdino por natureza, mas escreve com a mão direita.  Como o sentido da escrita cursiva se processa da esquerda para a direita, a criança destra tem mais facilidade em escrever do que a esquerdina. E, devido à forma dos carateres, o mancinismo constitui uma predisposição para a disgrafia. O mesmo acontece com o António, apesar de escrever com a mão direita.

Todo o traçado da escrita manual se torna menos natural para o esquerdino, uma vez que este empurra a esferográfica em vez de a puxar, o que de certo modo entrava o movimento cursivo. O sentido natural da escrita de um esquerdino deveria ser da direita para a esquerda.  A realização de movimentos no sentido oposto, ao que lhe seria mais favorável, cria-lhe confusão e acrescidas dificuldades na própria estruturação do espaço. Por isso, em situações normais, os esquerdinos não escrevem tão bem como os destros.

É, pois, necessário, desde o início da aprendizagem, estar atento às inversões e à escrita especular. A reeducação da escrita é sempre um processo muito moroso, e consiste essencialmente na associação dos fonemas mais confundidos aos grafemas correspondentes, fazendo sempre apelo à atenção e ao raciocínio.

A disgrafia anda associada à dislexia. Esta precisa de ser tratada com um método de ensino apropriado, após uma despistagem atempada e oportuna, não demasiado cedo nem tarde demais. Deve ter-se presente que no início da escolaridade quase todas as crianças fazem inversões e  confusões, que acabam por desaparecer com o tempo.

O disléxico apresenta um gesto gráfico lento, muitas vezes, cortado, podendo entrar em contacto anguloso com a linha. Apresenta má coordenação ou cria espaços irregulares entre as letras e  as palavras. Surgem retoques e emendas abundantes, devido a dificuldades ortográficas e à deficiente aprendizagem da escrita.

No que respeita a forma, a escrita dos disléxicos apresenta pouca originalidade, sem complicações nem floreados, porque a falta de domínio do ato de escrever não lhe permite grande liberdade.

Este aluno apresenta evidentes sintomas de dislexia, pois, ao ler um texto simples e pequeno, confunde as palavras por com pois, pois com pôs, rapaz por capaz.

Afonso Henrique Maça Sousa

 

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