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23/10/22

A perícia da escrita Manual - Considerações

Definição de escrita

1.       Cada indivíduo tem uma escrita a própria, que se distingue de todas as outras, porque é o resultado de atos psíquicos e neurofisiológicos singulares.
Como todas as pessoas são diferentes, não existem duas escritas iguais.

2.       Até os grafismos feitos pelo mesmo escrevente apresentam sempre algumas dissemelhanças, porque os micro gestos, ocasionados pelas múltiplas interações, nunca são executados exatamente da mesma maneira.

3.       Qualquer grafismo resulta da conjugação de fatores de ordem cerebral, de memória, neuronal, motora e muscular.

Objetivo da perícia de escrita manual

1.       O exame pericial da escrita manual, de acordo com o quesito, consiste na determinação da autoria de documentos contestados, através da comparação de suas caraterísticas com as de documentos contestados.

2.       Complementar ao exame pericial pode ser o recurso à grafonálise para apoio na resolução de determinados casos criminais como a designada “mão forçada”, em que alguém é forçado física ou psicologicamente a assinar determinado documento, restando as marcas da coação, como por exemplo, tremuras, pressão e ângulos que não podem ser consideradas de disfarce (Francisco Viñals e Mª Luz Puente (Universidade Autónoma de Barcelona).

Método

1.       Na análise macroscópica, são observados e comparados, genericamente, os documentos autênticos e os contestados, quanto aos hábitos de escrita, verificando a organização espacial (espaço entre linhas e entre palavras, margens, nível de escrita), a espontaneidade, a legibilidade, a forma, a proporcionalidade dimensional, a direção da linha, a pressão, a velocidade, a inclinação e a ligação.

2.       Na análise de pormenor, são observadas, comparadas e explicadas, detalhadamente, as semelhanças e diferenças dos documentos autênticos e contestados com base no traçado (sentido dos movimentos, grau e tipo de conexão, forma e espaço entre letras, pontos de arranque e de remate), a pressão, a angulação/curvatura, as tremuras, a acentuação, a pontuação, os gestos-tipo e outras particulares específicas dos grafismos observados.

Premissas                                                                                                                                       

1.        Apesar da variabilidade, a escrita mantem-se relativamente constante ao longo da vida, criando hábitos gráficos.

2.       Existem pequenas variações naturais nas escritas e nas assinaturas, mas quando duas ou mais escritas ou assinaturas forem exatamente iguais, alguma delas é falsa.

3.       A avaliação da pertinência das caraterísticas depende da qualidade, da quantidade e da peculiaridade das mesmas.

4.       Para distinguir escritas ou assinaturas verdadeiras de falsas é necessário inventariar as suas caraterísticas e compará-las, servindo-se fundamentalmente de documentos originais.

5.       Determinadas circunstâncias físicas ou psíquicas podem alterar alguns parâmetros da escrita.

6.       A individualidade da escrita é independente do membro que a executa, porque é influenciada por fatores neurológicos e cerebrais.

7.       A assinatura tem um valor diferente dos outros grafismos porque constitui uma marca privilegiada e única de identificação.

8.       A assinatura e escrita falsificadas ou auto-falsificadas nunca são iguais às autênticas, porque não são espontâneas e ficam as marcas do esforço para contrariar os hábitos gráficos, perdendo velocidade e espontaneidade.

9.       Para atribuir a mesma autoria a determinado documento suspeito não pode existir nenhuma diferença fundamental entre os documentos autógrafos e o suspeito. E, para Buquet e Cristofanelli, as diferenças assumem maior valor do que as semelhanças.

10.   Sempre que possível, e no caso de dúvida, devem recolher-se, criteriosamente, autógrafas junto dos sujeitos suspeitos de autoria de documentos ou assinaturas.

11.   É mais próprio de um escrevente habilitado fazer uma escrita de grau inferior do que um escrevente de baixo nível fazer uma escrita grau superior.

12.   A escrita não é analisada unicamente na materialidade morfológica, mas sobretudo na sua manifestação dinâmica, pois é no movimento que a pessoa revela a sua autêntica natureza.

13.    A forma material da escrita não nos dá o direito, enquanto tal, de concluir pela identidade da mão.

14.   Ninguém consegue modificar a sua escrita natural sem deixar o sinal do esforço realizado para disfarçar (na distribuição espacial, no ritmo, nas formas geométricas, nos gestos-tipo).

15.   A escrita não é analisada unicamente na materialidade morfológica, mas sobretudo na sua manifestação dinâmica, pois é no movimento que a pessoa mais revela a sua autêntica natureza.

16.   As conclusões devem ser claras, concretas e concisas.

Equipamentos mínimos necessários

1.       Lupa milimétrica Hipower12x

2.       Microscópio Digital Ceslestron Handheld, ampliação até 200x

3.       Software Paint.net v 4.2.14

4.       Máquina fotográfica digital

5.       Ferramentas de recorte do Windows

6.       Vários tipos de iluminação

7.       Modelos grafonómicos para medição de forma, dimensão e angulação

Conclusão

1.       Do confronto entre os vários grafismos resultará uma avaliação qualitativa das marcas semelhantes e dissemelhantes, pericialmente mais pertinentes, neles detetadas.

2.       O resultado obtido será expresso termos de probabilidade, de acordo com a seguinte tabela de referência:

 

Tabela de Referência

 

Níveis positivos

 

             Níveis negativos

1.       Muitíssimo provável sim

2.       Muito provável sim

3.       Provável sim

 

            Inconclusivo

1.       Muitíssimo provável não

2.       Muito provável não

3.       Provável não

 

 

 


Os níveis “muitíssimo provável (sim ou não)” estão próximos da certeza plena da autoria dos documentos contestados ou da sua negação.

Os níveis intermédios refletem graus de certeza variáveis, dependendo da qualidade e quantidade das caraterísticas mais marcantes.                                  

O nível “inconclusivo” resulta da ausência de condições ou escassez de elementos de comparação diferenciadores nas escritas em confronto.


 

              Afonso  Henrique Maça Sousa

             Mestre em Grafoanálise, especialidades de grafística, grafopatologia e grafologia forense

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