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11/04/15

Análise linguística forense


O ex-primeiro ministro português, José Sócrates, publicou o livro “Confiança no Mundo – Sobre a Tortura em Democracia”. O jornal semanário “Sol”, num artigo de Ana Paula Azevedo e Felícia Cabrita, de 27/03/2005,  relatam que terá sido um professor catedrático a escrever o livro. Chegaram a esta conclusão, com base em indícios recolhidos, através de escutas telefónicas, na Operação Marquês. Os advogados de José Sócrates desmentiram, categoricamente, afirmando que tenha sido este o autor do livro.


Vemos muitas pessoas a escrever livros, apesar de possuírem um nível intelectual inferior ao ex-primeiro ministro. Ninguém duvida que ele não tenha preparação e dotes suficientes para escrever um ou mais livros.  
Acredite-te ou não se acredite que o livro tenha sido escrito por José Sócrates, existem métodos de avaliação que podem confirmar a autoria, neste e em tantos outros casos, em que são levantadas suspeitas.
O método aqui proposto é a análise linguística das marcas deixadas no texto contestado, seguida da comparação com as de outros textos escritos pelo considerado verdadeiro autor ou pelo autor suspeito.
Existem centenas de parâmetros que, se estiverem presentes e coincidirem numa e noutras obras, confirmam a sua autoria; pelo contrário, se se observarem numa obra e não estiverem presentes noutra ficará provada uma autoria diferente.
A linguagem escrita permite expressar-nos através de várias funções e obedece a estruturas semânticas, sintáticas e morfológicas caraterísticas.
Vou limitar-me a citar cerca de duas dezenas de itens que costumam se examinados e aplicados na identificação de autores de cartas anónimas escritas em carateres tipográficos:
·  A preferência por uma das funções: denotativa, conotativa, apelativa, fática, poética e metalinguística.
·  A densidade de ideias e a riqueza vocabular ou o uso de redundâncias, com estereótipos.
· O modo de construção do discurso: preferência por frases simples ou complexas, coordenadas ou subordinadas.
·  A abundância ou a escassez de parágrafos.
·  A ordem dos elementos sintáticos na frase.
·  O nível de linguagem: corrente, popular, cuidado, literário, familiar e calão.  
·  O uso frequente ou diminuto de sufixos aumentativos ou diminutivos.
·  A utilização, de modo correto ou incorreto, da pontuação e da acentuação. 
·  O recurso a estrangeirismos, neologismos ou arcaísmos.
·  O emprego de expressões idiomáticas ou recorrentes.
·  A repetição de determinados termos que estabelecem o relacionamento entre frases, tais como: ora, então, pois, portanto, com efeito, aqui.
· A abundância de diversos tipos de frases: declarativo, interrogativo, exclamativo e imperativo.
·  O domínio dos discursos direto, indireto ou indireto livre.
·  A adjetivação excessiva ou diminuta.
·  A existência de erros semânticos, sintáticos ou ortográficos.
·  A preferência por figuras de estilo mais frequentes: metáfora, hipérbole, ironia, repetição, comparação.
· O emprego de determinadas formas verbais, de pronomes pessoais, de advérbios, de preposições, de interjeições.
· A repetição de  tiques linguísticos, impares, específicos de cada escritor. 

Nada, na linguagem, acontece por acaso, porque a utilização das palavras no discurso oral ou escrito  é modelada, singularmente, pela mente de cada escritor. 

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