O
ex-primeiro ministro português, José Sócrates, publicou o livro “Confiança no
Mundo – Sobre a Tortura em Democracia”. O jornal semanário “Sol”, num artigo de
Ana Paula Azevedo e Felícia Cabrita, de 27/03/2005, relatam que terá sido um professor catedrático a escrever o livro.
Chegaram a esta conclusão, com base em indícios recolhidos, através de escutas
telefónicas, na Operação Marquês. Os advogados de José Sócrates desmentiram,
categoricamente, afirmando que tenha sido este o autor do livro.
Vemos muitas pessoas a escrever livros, apesar de
possuírem um nível intelectual inferior ao ex-primeiro ministro. Ninguém duvida
que ele não tenha preparação e dotes suficientes para escrever um ou mais
livros.
Acredite-te ou não se acredite que o livro tenha sido
escrito por José Sócrates, existem métodos de avaliação que podem confirmar a
autoria, neste e em tantos outros casos, em que são levantadas suspeitas.
O método aqui proposto é a análise linguística das
marcas deixadas no texto contestado, seguida da comparação com as de outros
textos escritos pelo considerado verdadeiro autor ou pelo autor suspeito.
Existem centenas de parâmetros que, se estiverem
presentes e coincidirem numa e noutras obras, confirmam a sua autoria; pelo
contrário, se se observarem numa obra e não estiverem presentes noutra ficará
provada uma autoria diferente.
A linguagem escrita permite expressar-nos através de
várias funções e obedece a estruturas semânticas, sintáticas e morfológicas caraterísticas.
Vou limitar-me a citar cerca de duas dezenas de itens
que costumam se examinados e aplicados na identificação de autores de cartas
anónimas escritas em carateres tipográficos:
· A preferência por uma das funções:
denotativa, conotativa, apelativa, fática, poética e metalinguística.
· A densidade de ideias e a riqueza
vocabular ou o uso de redundâncias, com estereótipos.
· O modo de construção do discurso: preferência
por frases simples ou complexas, coordenadas ou subordinadas.
· A abundância ou a escassez de
parágrafos.
· A ordem dos elementos sintáticos na
frase.
· O nível de linguagem: corrente,
popular, cuidado, literário, familiar e calão.
· O uso frequente ou diminuto de sufixos
aumentativos ou diminutivos.
· A utilização, de modo correto ou
incorreto, da pontuação e da acentuação.
· O recurso a estrangeirismos,
neologismos ou arcaísmos.
· O emprego de expressões idiomáticas
ou recorrentes.
· A repetição de determinados termos
que estabelecem o relacionamento entre frases, tais como: ora, então, pois,
portanto, com efeito, aqui.
· A abundância de diversos tipos de
frases: declarativo, interrogativo, exclamativo e imperativo.
· O domínio dos discursos direto, indireto
ou indireto livre.
· A adjetivação excessiva ou diminuta.
· A existência de erros semânticos,
sintáticos ou ortográficos.
· A preferência por figuras de estilo
mais frequentes: metáfora, hipérbole, ironia, repetição, comparação.
· O emprego de determinadas formas
verbais, de pronomes pessoais, de advérbios, de preposições, de interjeições.
· A repetição de tiques
linguísticos, impares, específicos de cada escritor.
Nada, na linguagem, acontece por acaso, porque a utilização das palavras no discurso oral ou escrito é modelada, singularmente, pela mente de cada escritor.
Nada, na linguagem, acontece por acaso, porque a utilização das palavras no discurso oral ou escrito é modelada, singularmente, pela mente de cada escritor.
Sem comentários:
Enviar um comentário