Vasco Graça Moura, pessoa erudita, falecido aos 72 anos,
licenciou-se em Direito, mas dedicou-se, intensamente, à escrita como ensaísta,
poeta e tradutor.
Observando este pequeno texto escrito, em 1978, quando Graça
Moura tinha 36 anos, conseguem-se evidenciar algumas caraterísticas da sua
personalidade.
A sua escrita, impulsionada para frente, ligeiramente, ondulada,
ritmada e rápida, indicia vivacidade de pensamento e de ação. Os múltiplos
sinais de criatividade evidenciam-se, especialmente, na forma como estabelece a
ligação entre as letras e traça as barras de alguns “tt”. O “gesto da
independência”, patente no modo como traça a haste da letra “p”, tipo antena, costuma
associar-se ao desejo de independência. Manifesta-se, também, o seu poder
de conciliação, devido ao predomínio dos movimentos arredondados em detrimento
dos angulosos.
A assinatura simples, semelhante
ao texto e sem traços desnecessários, revela sinceridade e coerência em relação
aos outros e consigo próprio.
Vasco de Graça Moura remou contra
a maré, na sua oposição acérrima ao último Acordo Ortográfico.
Foi um poeta original e um tradutor
invulgarmente abrangente, traduzindo clássicos, como Shakespeare, Dante, Petrarca, Lorca e
Racine.
Entre as distinções recebidas contam-se o Prémio Fernando
Pessoa, a Coroa de Ouro do Festival de Struga e o Prémio Nacional de Tradução,
este atribuído, em 2007, pelo Ministério da Cultura italiano.
Poema de V. G. Moura
dedicado à Mãe - “Lâmpada votiva 3” (2002):
“Agora deu-se à
terra o que é da terra
e as flores
amontoam-se em sinal
de ser fugaz a vida,
sobre a cal.
e enquanto cada dia
desaferra,
com o seu sopro
bravio virão ventos
e as gaivotas,
levando-lhes outras vozes,
uivos do mar, pios,
metamorfoses.
nada ela escutará
nesses momentos.
haverá fumo e fogo,
deslembranças,
ecos, recordações,
nuvens, ruídos,
outros cortejos
tristes, recolhidos,
ali por perto hão-de
brincar crianças
num jogo descuidado.
um grupo vence-o.
mas fica a minha mãe
posta em silêncio.”
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