Podemos colocar as questões: Em que carateres foi escrito o código de Hamurabi?
Como seria a escrita de Jesus? Em que
tipo de letra foram escritos os Evangelhos?
Para responder a qualquer uma destas
perguntas, para distinguir documentos falsos de documentos autênticos ou para
caraterizar determinada personalidade, é conveniente conhecer previamente o
modelo caligráfico da época, visto que ao longo da história existiram vários
padrões de escrita.
Escrita Uncial
A escrita uncial (letras manuscritas
maiúsculas) praticava-se com os alfabetos latino e grego, entre os séculos III
e VIII. Corresponde a uma evolução tardia das maiúsculas romanas. O texto
aparece em contínuo e as palavras não se separam nitidamente. Entre os séculos
VIII e XIII, foi empregada em títulos e capítulos de livros, tendo sido
gradualmente substituída pela minúscula carolíngia.
Nos séculos V e VI, as letras unciais
sofreram várias alterações, especialmente com o aparecimento de hastes
ascendentes e descendentes, dando origem à escrita semiuncial.
A escrita carolíngia (séculos IX-XII),
iniciou-se no reinado de Carlos Magno, rei dos Francos e espalhou-se por quase
toda a Europa.
Extrato da Carta de Pero Vaz de Caminha
A escrita gótica (séculos XII-XVI),
derivada da escrita carolíngia, corresponde a um tipo de letra angulosa e com
linhas quebradas. Este estilo continuou a ser usado na Alemanha até ao século
XX.
A escrita gótica cortesã, utilizada
nas Cortes, em meados do século XIV, tinha menos corpo que a atual e era mais
ligada e mais apertada. Generalizou-se a partir de meados do século XVI.
A escrita gótica processual, utilizada
nos documentos judiciais e processos públicos, era uma degeneração da gótica
cortesã. Maior e mais rápida que a cortesã, continha muitos enlaces e
ornamentos. O espaço entre palavras era irregular.
A escrita gótica encadeada era
empregada pelos notários, escrivães e tabeliães, entre os séculos XVI e XVII.
As letras e as palavras ligadas dificultavam a leitura, chegando a existir
linhas inteiras sem que fosse levantada a caneta do papel.
A escrita itálica ou bastarda era
adotada pelos calígrafos do século XVII. De modo geral, a escrita bastarda era
muito mais clara e legível do que a processual ou a encadeada.
A escrita humanista, a
mais utilizada a partir do século XVI, e
inspirada na carolíngia, teve início em Florença e foi introduzida na Península
Ibérica no final do século XV.
Até
à invenção da imprensa por Gutemberg, em meados do século XV, todos os
documentos administrativos e religiosos eram manuscritos.
No
século XVI, surgem as escolas de “Arte de Bem Escrever”. A escrita não só
deveria ser elegante, mas também legível. A personalização era pouco praticada,
mesmo os modelos dos mestres registavam pequenas diferenças de uns para os
outros. As letras eram inclinadas para a direita, com laços e floreados.
O ensino da escrita, a partir dos
séculos XIX e XX, baseou-se especialmente na psicofisiologia da criança, mas
não era entendida como um processo psicodinâmico ativo.
A partir de 1882, foi decretado o uso
da Cartilha Maternal, de João de Deus, precursora de várias cartilhas.
No século XX, a escrita inglesa, inclinada
para a direita, era ensinada nas escolas comerciais, especialmente nas de
Lisboa e do Porto.
A letra francesa, vertical e mais
simplificada que a inglesa, instaurou-se em Portugal, a partir de 1930. Este
tipo de letra não tinha a mesma qualidade que a praticada nas escolas
comerciais, porque os professores primários da altura não tinham a mesma
preparação caligráfica dos mestres.
Ultimamente,
a Escolar Portugal propôs a utilização de letras ligadas, com formas mais
simples e mais lógicas e com espaçamentos corretos, eliminando as ambiguidades
derivadas das formas parecidas. Pretende-se evitar os floreados ou ornamentos
desnecessários. Propõe-se que os cadernos sejam escritos na mesma fonte em que
as crianças aprendem a escrever. Aconselha-se o ensino da caligrafia vertical,
por ser mais lógica e facultar o desenvolvimento do ambidestrismo.
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