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22/05/08

Escrita da Criança

A análise da escrita infantil pode ajudar a compreender a criança dentro do ambiente familiar e escolar e a orientá-la na sua fase de desenvolvimento. Este tipo de análise tem uma leitura diferente da do adulto, porque as realidades são diferentes. A personalidade da criança encontra-se numa fase de desenvolvimento e a própria escrita está igualmente em evolução. O desenvolvimento da criança e problemas afectivos, falta de atenção, hiperactividade e disgrafia manifestam-se nos vários géneros da escrita.

Na aprendizagem da escrita a inteligência é um factor determinante. Os débeis mentais, mesmo sem dificuldades motoras, não escrevem como os normais da mesma idade. Todavia não é conveniente tirar conclusões sobre o nível de inteligência na criança através da sua escrita. Se uma escrita desenvolvida pressupõe a uma boa inteligência, nem sempre uma escrita pouco desenvolvida corresponde a uma fraca inteligência. O grafólogo é capaz de dizer se um estudante considerado inteligente é criativo e original ou é apenas assimilador e reprodutivo.

Para J. Peugeot há factores que constituem índice de inteligência como a velocidade, sem perder qualidade, a clareza e harmonia do conjunto, a personalização precoce dos m, n e p, a ligação de várias letras seguidas e a simplificação de traços dispensáveis, uma boa pressão e escrita pequena, desde que associada a um bom nível grafomotor. O próprio Alfred Binet, pedagogo e psicólogo francês, numa fase inicial, julgava que, através da escrita, poderia avaliar a inteligência, mas posteriormente optou por testes de compreensão da linguagem.

Ajuriaguerra e a sua equipa estudaram, profundamente, a escrita infantil e construíram uma escala composta por 25 itens que são classificados em três rubricas: ordem, falta de destreza e os erros de forma e de proporções. A sua escala permite avaliar a idade grafomotora da criança, comparando-a com a idade cronológica. Este autor atribui muita importância à irregularidade do espaço entre as letras, por se tratar dum gesto expressivo das dificuldades de controlo. Refere que existem casos em que a correcção das anomalias da escrita resolveu os problemas da criança, devido ao circuito estabelecido nas duas direcções entre o cérebro e o gesto gráfico. Segundo o autor, um gesto repetido torna-se habitual e condiciona o estado psicológico.

Na evolução da escrita distinguem-se três fases: pré-caligráfica (dos 5-6 até aos 8-9 anos), caligráfica (dos 10 aos 12 anos) e pós-caligráfica (dos 13-16). Na 1ª fase, as letras curvas apresentam-se abauladas, aparecem vários retoques, a direcção das linhas e a inclinação das letras apresentam irregularidade, as margens são pequenas ou estão ausentes. Na 2ª, o modelo é bem imitado, havendo uma melhor gestão das ligações, do espaço e dos vários géneros. E na fase pós-caligráfica, a velocidade aumenta e a escrita torna-se mais personalizada.

1 comentário:

Alíria Souza disse...

Aqui no Brasil há uma carência em estudos e pesquisas científicas do gesto gráfico dentro de uma dinâmica do espaço gráfico como um todo envolvendo a escrita da criança. Há uma tendência maior da Grafologia aplicada a Seleção de Pessoal nas empresas. Esta matéria sobre os estudos de Ajuriaguerra sobre a evolução da escrita em crianças e adolescentes, merece uma atenção maior. Parabéns pela iniciativa