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12/02/21

Análise dos documentos suspeitos

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Selecionar o método mais apropriado, conforme a diligência a efetuar. 

Catalogar os documentos, numerando os contestados e os autênticos por letras diferentes (normalmente uma letra maiúscula para cada pessoa suspeita seguida de algarismos para identificar os documentos)

Procurar documentos originais (vários exemplares) e atuais e, preferencialmente, contemporâneos ou de época semelhante à do documento contestado e com bastantes elementos para comparação.

Construir um plano e um modelo geral para a redação do parecer, com os sinais que se pretendem medir e comparar.

Referir a frequência e o grau de intensidade com que surgem os sinais, prestando atenção às marcas particulares e individualizantes.

Adquirir novos exemplares elaborados, se possível na presença do perito, ditados pelo perito ou pelo juiz  ao autor dos escritos suspeitos. O valor identificativo destes documentos depende em grande parte do modo como são elaborados e realizados, criando condições para que surja um produto espontâneo e enquadre elementos abundantes para comparação. A posição do escrevente, o papel (linhas, dimensão, espessura), o instrumento de escrita (lápis, caneta, esferográfica, marcador) e o suporte devem ser semelhantes aos utilizados no documento questionado.

O escrevente não deve estar a ver o documento contestado, a fim de evitar imitá-lo.

Se se duvidar que o escrito tenha sido feito com outra mão, pede-se ao sujeito escrevente que mude de mão e o perito assinala as variações.

No caso de estar presente durante a elaboração dos textos ou das assinaturas, deve estar atento às reações, atitudes, hesitações, emendas, rapidez ou lentidão. Se este documento não constituir uma prova suficiente, por falta de sinais e dissimulação, passado algum tempo o perito pode solicitar a realização de outro exemplar de escrita.

Quanto mais amplo e variado for o texto, mais fácil será para o perito encontrar elementos de comparação. Reportar as circunstâncias exteriores: ambiente, suporte, instrumento, papel, estado do escrevente.

A presença duma câmara fotográfica ou de filmar poderá ser uma mais-valia para dar indicações sobre velocidade e direção do movimento (sinistrogiro ou dextrogiro), especialmente nos ovais e traços do t.

Na avaliação final (exame comparativo dos documentos suspeito e de controlo) têm um papel predominante os sinais semelhantes e iguais para a identidade e os diferentes e opostos para a não identidade. Os sinais acessórios (ou circunstanciais), mais fáceis de imitar, terão um papel secundário, tanto para a identidade como para a não identidade. O grau de probabilidade da identidade e da não identidade dependerá do nível de presença ou ausência desses elementos. Os elementos acessórios (facilmente alteráveis) estão, sobretudo, ligados à forma. Michaud considera substanciais (essenciais) o movimento, a dinâmica da escrita, os gestos espontâneos e fugitivos. Se se encontrarem sinais substanciais diferentes ou opostos, nos dois documentos, provavelmente, trata-se de dois autores diferentes. Se predominarem sinais substanciais semelhantes ou iguais, há grande probabilidade de se tratar do mesmo autor. Os sinais ditos circunstanciais servirão para aumentar a probabilidade da identidade ou não identidade, no caso da sua presença ou ausência.

Pierre Humbert afirma que as semelhanças entre duas escritas não são suficientes para deduzir a identidade, sendo necessário que, também, não existam diferenças qualitativas.

O mesmo autor muitas vezes traça algumas letras de maneira diferente, conforme a localização na palavra (no princípio, no meio ou no fim) e, neste caso, o aparecimento no documento contestado de letras escritas de modo igual pode ser sinal de falsidade.

Moretti afirma que, por vezes, um sinal tem tanta força, é tão próprio e tão típico duma dada personalidade, que é suficiente para determinar que ambos os escritos foram feitos pela mesma mão. Também Locard diz que se nenhum dos idiotismos presentes nas duas escritas (contestada e de controlo) forem diferentes, trata-se duma identidade evidente. Mas os idiotismos identificadores mais significativos são os menos vistosos (desenvolvimento dos ovais, direção do ganchos, direção da linha de base das palavras, pontos de ligação).

Os grafólogos tendem a valorizar as diferenças na atribuição da autoria, pois, uma única diferença inexplicável é suficiente para duvidar da identidade da mão.

Prudência na avaliação final, sem emitir juízos de valor, mas apenas avaliação técnica. Nunca se pode falar de certeza absoluta, mas de alta probabilidade, de baixa probabilidade ou de impossibilidade conclusiva (devido a falta de provas).

O perito pode errar, porque errar é humano. Nem o método adotado nem a fama do perito só por si podem garantir resultados objetivos e seguros. Ao perito compete proceder ética e deontologicamente, na formulação do seu parecer, não se deixando desviar por qualquer defesa ou interesse das partes.

Afonso Sousa

Perito da escrita manual




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