Lista extraída de https://universocanhoto.wordpress.com/2007/09/23/canhotos-famosos/
Os testes clássicos de lateralidade nem
sempre são capazes de distinguir a mão mais propícia para a escrita, uma vez
que esta é uma atividade complexa e sujeita a constrangimentos sociais.
O problema da escolha da mão
escrevente coloca-se, muitas vezes, por volta dos 6 anos de idade, quando a
criança já tem uma prática escolar e os pais se questionam sobre o porquê dos seus
filhos escreverem mal. Se as pressões do meio entrarem em ação, a criança
coloca-se, inconscientemente, vários problemas, como satisfazer o desejo dos
pais, contrariá-los, imitar um familiar, ou um colega, ou singularizar-se. Convém não nos esqueceremos que a criança se
vai apercebendo que o mundo da tecnologia foi construído para a destro, podendo
sentir-se, como que, hostilizada.
O sentido da nossa escrita é da
esquerda para a direita, como é sabido. Algumas escritas como a arábica e a hebraica
desenvolvem-se da direita para a esquerda, mas possuem uma civilização e uma caligrafia
diferentes das ocidentais.
No mundo ocidental, o movimento da
escrita procede do centro do corpo do escrevente para o exterior e a posição
natural da mão é por baixo da escrita. Para o esquerdino, o movimento inicial processa-se
do exterior para o interior do corpo e a posição por baixo da linha, que normalmente
lhe é imposta, tem tendência a bloquear o seu cotovelo contra o corpo. O esquerdino escreveria melhor se colocasse a
mão lateralmente, mas esta arrastar-se-ia sobre a escrita, escondendo-a e sujando-a.
Enquanto o destro coloca,
naturalmente, a folha em que escreva na posição diagonal ascendente, o
esquerdino escreverá com maior facilidade se a colocar em diagonal descendente.
O esquerdino escreve contranatura,
pois, em vez de puxar pelo instrumento é obrigado a empurrá-lo, o que dificulta
o traçado cursivo da escrita. De facto, o sentido ideal de escrita por parte do
esquerdino seria da direita para a esquerda. Sentido esse adotado naturalmente
por algumas crianças esquerdinas, no início da aprendizagem. Transpondo, incorretamente,
os movimentos num sentido, que não o seu, o esquerdino faz, muitas vezes, as
vogais ao contrário. E quando na escola imita
os gestos da professora destra, pode desenvolver alguma descoordenação a nível
de esquema corporal e de estruturação espacial.
Torna-se importante:
- Escolher um instrumento de escrita de
boa qualidade, a fim daquele deslizar com facilidade sobre o papel.
- Adotar a posição em que se sinta
mais à-vontade, mesmo colocando a mão a da parte de cima da linha, apesar de
ser menos estética do que a posição por baixo da linha.
- Verificar a posição do corpo para não
ficar contraído.
- A posição da folha deve ser com
inclinação inversa à do destro, com o canto superior esquerdo ligeiramente mais
acima do que o direito e ligeiramente mais chegada para lado esquerdo.
- Corrigir desde o início o sentido da
escrita e o traçado especular (este tipo de escrita também pode acontecer em
crianças que, sendo destras, têm distúrbios de estruturação espacial).
Segundo estudos efetuados por
Ajurriaguerra, por Hécaen e de acordo as minhas próprias observações, os
esquerdinos, como norma, escrevem com menor qualidade do que os destros,
especialmente na fase da aprendizagem.
Enfim, existem marcas na escrita do
esquerdino que o identificam, mas que não são totalmente discriminantes por
serem difíceis de distinguir após a escrita já estar feita. Não obstante todas
estas observações, há casos de esquerdinos que se servem desde cedo da mão
esquerda com grande habilidade.
Afonso Sousa
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