O grande matemático, arquiteto e
escultor, Leonardo Da Vinci, (1442-1518), era esquerdino e, talvez, disléxico. Escreveu
milhares de páginas em escrita especular, por ser escrever com a mão esquerda,
por segredo profissional ou por atração por tudo o que se relacionasse com o
oriente, onde se escreve da direita para a esquerda. A caligrafia de Leonardo Da
Vinci tem ritmo, movimento e um notável sentido do espaço e das formas. Ele alterna
formas desiguais num contexto harmónico, demonstrando grande intuição e criatividade.
Além de Leonardo Da Vinci, já referido, houve
muitos esquerdinos famosos como Miguel Ângelo, Paganini, Pacciolini
(matemático), Paulo Picasso, Charlie Chaplin, Roberto Schumann.
A escrita especular ou escrita em
espelho é aquela que se estende da direita para a esquerda, porque só pode ser
decifrada, com facilidade, por meio dum espelho.
Este modelo de escrita pode assumir um
grande significado psicológico e pericial.
Independentemente
da mão escrevente, a escrita é um produto do
cérebro, portanto, não depende da mão que escreve. Mesmo sendo feita com mão, com
o pé ou com órgãos diferentes, as suas caraterísticas não divergem. Porém, se
houver uma alteração a nível cerebral, ocorrerão imediatamente alterações a
nível da escrita.
As funções dos hemisférios cerebrais
são assimétricas. Cada hemisfério controla os movimentos da parte oposta do
corpo. Assim, um indivíduo destro utiliza mais o hemisfério esquerdo e um
sinistro, mais o hemisfério direito. Podemos dizer que se nasce esquerdino como
de nasce com olhos azuis. A nível de quociente de inteligência não há
diferenças, mas há tendências diversas. O hemisfério esquerdo está mais ligado
aos aspetos cognitivo-racionais da linguagem e o hemisfério direito aos aspetos
espaciais, artísticos e emotivos.
Através do sentido do movimento da
barra do t, por exemplo, pode descobrir-se, muitas vezes, a mão da escrita. Perante uma a
análise psicológica e pericial de documentos manuscritos, a escrita invertida
do esquerdino deve ter uma interpretação semelhante à escrita inclinada para a
direita dos destros.
Do ponto de vista educacional e
pedagógico, como fazer a melhor opção da mão escrevente?
A mão mais ágil é a que deve ser a
preferida, segundo a preferência de cada indivíduo. Uma escrita pequena,
controlada, com traçado firme e apoiado são sinais positivos. Ao passo que a
escrita grande, por incapacidade de fazê-la pequena, leve e trémula, lenta e
descoordenada são sinais negativos.
A lateralidade da mão não deve ser a
única a ser tida em consideração na opção pela mão escrevente. Será necessário
estudar a lateralidade de outros órgãos e sentidos, como o olho, o pé e o
ouvido. Por isso, para a obtenção de opção
acertada, é preciso analisar bem a habilidade de cada mão para escrever.
No caso de dúvida, a decisão a tomar
não pode contrariar a criança, para que esta seja lesada no desenvolvimento das
suas capacidades motoras, emocionais e intelectuais.
Quando se trata de um ambidestro, que
escreve com a mesma facilidade com ambas as mãos, é aconselhável fazer a
aprendizagem com a direita
Noutros tempos, contrariavam-se os
esquerdinos, obrigando-se a escrever com a mão direita, mas tal atitude
originava, por vezes, gaguez, bloqueios e recusas.
Convém recordar que não se deve
determinar muito cedo se uma criança é esquerdina ou destra, porque a
maturidade nos esquerdinos dá-se mais tarde do que nos destros. Testes
aplicados precocemente poderão levar a decisões erradas. Os ambidestros podem
ter um atraso na maturidade da lateralidade até à idade de 8 anos, o que
constitui um fator negativo para a aprendizagem da escrita.
Afonso Sousa
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