Os oito exemplos aqui apresentados vão desde a fase inicial da aprendizagem, até ao momento presente.
1.º teste – 6 anos e 6 meses, 1.º ano
Comecei por lhe solicitar que escrevesse a frase As nossas palavras são como um cristal, que eu lhe registara antes no cimo duma folha A4, sem linhas. Num primeiro minuto, pedi-lhe, simplesmente, que escrevesse a frase com o lápis preto (instrumento que ele utiliza). Passados cinco minutos, solicitei que voltasse a escrevê-la o mais depressa possível e quando acabasse de copiar a frase voltasse a escrevê-la novamente até que eu o mandasse parar. O Manuel completou apenas uma frase, tal como aconteceu à velocidade normal, escrevendo de cada vez 32 letras.
São as letras que ainda funcionam como unidade gráfica e não a palavra. Elas apresentam-se isoladas, grandes e imprecisas, devido às dificuldades grafomotoras. O espaço, a direcção e a forma das letras e das palavras apresentam irregularidades.
2.º teste – 7 anos e 2 meses, 2.º ano
Escolheu uma esferográfica azul. A escrita tornou-se mais pequena, a ligação entre letras melhorou e verificaram-se já menos torções e maior flexibilidade no traçado. A rapidez aumentou consideravelmente. O maior salto deu-se na transição do 1.º para o 2.º ano. Conseguiu fazer 60 letras. O Manuel tem agora um irmãozinho com três meses.
3.º teste – 7 anos e 6 meses 2.º ano
Voltou a escolher a esferográfica azul. Aparecem formas angulares, ligações imprecisas e linha descendente. O Manuel, depois de ter feito o teste à velocidade normal (administro sempre este tipo de teste como termo de comparação), no teste de velocidade, devido à preocupação, aumentou o tamanho das letras. O resultado foi ter conseguido fazer apenas 66 letras. À velocidade normal fizera 65.
4.º teste – 7anos e 11 meses 2.º ano
Desta vez escolheu o lápis preto. Nota-se uma tentativa de personalização nas ligações, especialmente na ligação do c ao r, na palavra cristal. Além do teste à velocidade normal, realizou mais dois testes à velocidade máxima, intervalados de 5 minutos. No primeiro teste mais veloz fez 71 letras e no segundo, 73. Estes números demonstram uma certa constância e objectividade dos resultados conseguidos neste género da escrita.
5.º teste – 8 anos e 2 meses, 3.º ano
Escreve com esferográfica azul. A pressão é mais leve do que costuma ser. As pernas do p são bastante curtas. A professora queixa-se à mãe do Manuel dizendo que o seu filho causa alguma instabilidade na turma e que não está a desenvolver totalmente as suas capacidades. De qualquer modo subiu a parada para 83 letras.
6.º teste – 8 anos e 9 meses, 3.º ano
Escreve com esferográfica azul. As linhas apresentam ondulações e a haste do l perdeu a curvatura e tornou-se angular. Nestes últimos sete meses foi quando se verificou o menor crescimento: conseguiu fazer 85 letras.
7.º teste – 9 anos e 2 meses, 4.º ano
Na escrita à velocidade normal quis escrever com lápis e à velocidade máxima escreveu com esferográfica azul. As letras estão muito juntas e as hastes inclinam-se para a esquerda. O Manuel consegue escrever a frase inteira em apenas 2/3 da linha imaginária. No início da aprendizagem a frase mal cabia na linha. Fez exactamente 100 letras.
8.º teste – 9 anos e 6 meses, 4-º ano
Escreveu com esferográfica preta. Estava ainda no rescaldo duma gripe. A mãe diz que o filho tem medo de errar na escola e em casa, apesar de muitas vezes saber as respostas. As hastes mantêm-se inclinadas para trás. Desta vez conseguiu o recorde de 108 letras por minuto.
Para sabermos se a velocidade da escrita desta criança se situa na média, abaixo ou acima da média seria necessário comparar os dados com uma tabela aferida para a população portuguesa.
Pode concluir-se que
- Uma velocidade equilibrada será sinal de desenvoltura, inteligência e boa capacidade de comunicação, características reveladas por este aluno.
- Este género da escrita (a velocidade) torna-se, com certeza, mais uma peça do puzzle para reconstituir a multifacetada personalidade humana.