Como teve origem a grafologia?
As marcas deixadas pela caneta na folha, semelhantes a sulcos deixados pelo arado na terra ou a pegadas de dinossauros, como costuma dizer Francisco Queiroz, desde muito cedo impeliram os estudiosos da escrita a descortinar o seu significado.
Durante o Império Romano, no II século da nossa era, Suetónio, biógrafo do Octávio César Augusto, destacou algumas particularidades da escrita do imperador, a fim de traçar o perfil da sua personalidade.
O primeiro livro de interpretação do carácter através da escrita só apareceu no século XVII com o médico italiano Camillo Baldi.
No século XIX, com Hipólito Michon, abade francês, teve o verdadeiro início o estudo científico da Grafologia e, desde esse período, tem-se expandido por toda a parte.
A grafologia tem o estatuto de ciência porque é constituída por um corpo de saberes sistematizados, objectivos, rigorosos e transmissíveis. Possui objecto, terminologia e método próprios e finalidades específicas. Os seus critérios e princípios podem ser testados. Não se confina a determinado território. Faz o seu percurso histórico independente de outras ciências, evoluindo com os próprios erros. Não apresenta verdades absolutas, mas graus de probabilidade.
Qual é a definição exacta de grafologia?
Alguns autores ou escolas apresentam definições um pouco diferentes, mas complementares. Umas são mais longas, outras, mais sintéticas. Em todas está presente o aspecto essencial “análise da escrita para a descoberta de determinadas tendências da personalidade do seu autor”. Cada sinal deve ser interpretado tendo em vista o contexto gráfico e não isoladamente.
Que traços da personalidade podem ser revelados através da análise grafológica?
A análise da escrita pode revelar certas características da personalidade: inteligência, intuição, criatividade, sociabilidade, energia psíquica, motivação, equilíbrio emocional, afectividade, actividade, abertura mental, organização, auto-estima, capacidade de decisão, concentração, liderança, honestidade, sensualidade, fantasia, agressividade, angústia e falsificação.
A escrita realizada com a mão esquerda, com a boca ou com o pé é diferente daquela que é feita com a mão direita?
A escrita é um acto mental do indivíduo e, por isso, cada um tem sua escrita própria, o seu estilo único. A escrita feita com a mão direita ou esquerda, com a boca ou com o pé exprime essencialmente as mesmas tendências da personalidade, conforme já demonstrou o TH. W. Preyer.
O teste grafológico substitui outros testes?
A grafologia é uma ciência. Não é apenas um teste, mas pode alcançar resultados iguais ou superiores aos de tantos outros testes projectivos.
Qualquer teste projectivo, isoladamente, fornece sempre menos dados do que se for cruzado com outros. O teste grafológico pode muito bem ser acompanhado por testes de desenho, nomeadamente, os da figura humana, da árvore, da família, da casa ou das ondas e do céu estrelado.
Em que campos se pode aplicar?
A grafologia tem aplicações relacionadas com auto-conhecimento, reeducação da escrita, compatibilidade conjugal, diagnóstico da personalidade, perícia documental, selecção de pessoal, aconselhamento profissional e vocacional, idoneidade de colaboradores, investigação histórica e artística, diagnóstico e contextualização de doenças físicas ou mentais.
A assinatura ou um pequeno texto são suficientes para fazer uma boa análise?
Depende daquilo que se pretende conhecer. Mas, normalmente, são necessárias várias páginas e várias assinaturas de períodos diferentes. Pois, um maior número de sinais gráficos fornece, em princípio, uma menor margem de erro.
Uma caligrafia bem feita é sempre um sinal positivo?
Fazer uma escrita caligráfica é seguir um padrão. Pode revelar sentido estético, mas também falta de originalidade e conformismo. Está claro que, se se tratar duma criança, na fase aprendizagem da escrita, será normal encontrar uma escrita caligráfica, e não se lhe pode atribuir nenhum significado especial.
No diz respeito ao reconhecimento e ao ensino oficiais da grafologia, Portugal está atrasado em relação a outros países, como Itália, França, Espanha, Suíça, Alemanha, Argentina, onde é ensinada em instituições de ensino superior, desde há vários anos.
O que não podemos pedir à grafologia?
Não se pode pedir à grafologia aquilo que ela não pode dar. Não dá a idade, o sexo, a profissão, o estatuto social, cultural ou económico do escrevente. Os grafólogos não prevêem o futuro nem prevêem comportamentos pontuais, mas indicam tendências ou predisposições do sujeito. E não devem confundir-se com astrólogos, cartomantes ou outros praticantes de artes divinatórias.
Não se pode falar em percentagens exactas de acerto, nem nesta nem em quaisquer outras ciências humanas afins, como a psicologia, a medicina, a pedagogia, a sociologia ou a criminologia. Pode, contudo, afirmar-se que uma margem de erro de dez ou vinte por cento é bastante razoável.
Por que prefere utilizar o termo grafologia em vez de psicologia da escrita?
Alguns autores fogem do termo grafologia para evitar confusões ou conotações pejorativas. Eu prefiro a palavra grafologia porque é mais abrangente. Não se trata de uma disciplina de psicologia, mas de uma ciência com múltiplas disciplinas. Certamente que para um grafólogo é indispensável uma boa formação em psicologia, mas a grafologia abrange outras componentes para lá da psicológica, nomeadamente, no âmbito da medicina, da psiquaitria, da criminologia, da investigação histórica e da selecção de pessoal.
Afonso Sousa
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