Sobre este tema vou publicar quatro artigos relacionados com as
caraterísticas da escrita de António, sua interpretação e atitudes a
desenvolver
António
e a sua escrita
António (nome fictício) tem 14 anos e frequenta o 6º ano de escolaridade.
O seu bigode já despontou. Ficou retido duas vezes: uma no 1º ano de
escolaridade e outra no 5º ano.
É teimoso, lento, distraído, verbalmente agressivo e pouco estudioso. Por vezes, chega a ser indisciplinado e desobediente.
António não gosta da escola, porque as “aulas são uma chatice, muito lentas e pouco animadas”, “os professores são duma certa idade, não aceitam uma brincadeira, é mesmo por isso que eu não gosto destas escolas”, “não gosto de ficar preso, nem de acordar cedo”.
Tem fraco aproveitamento escolar, com resultados
negativos no 1º e 2ºperíodos de avaliação. Lê e escreve com bastantes
incorreções. Sente-se, naturalmente, desmotivado. É nervoso e não consegue
estar quieto na cadeira.
Gosta de “andar de bicicleta, de mota ou de cavalo e fazer campismo.”
Gosta de liberdade e de sair de casa.
A diretora de turma informou-me que lhe tinham apresentado queixa do António por andar a apalpar as colegas. Parece extrovertido, mas fecha-se muito. Pois, nos intervalos passa o tempo ao pé dos funcionários e em vez de ir brincar com o grupo. É medroso, mas faz bastantes ameaças. Está desmotivado e distraído, liga pouco às aulas.
Através da análise da sua escrita irei procurar detetar alguns indícios
do fraco desempenho escolar e do comportamento do António.
O António não dorme o suficiente. Deita-se depois da meia noite, ficando
com a mãe no café até este encerrar, e levanta-se sempre às 07,30 da manhã. O
pai está muitas vezes ausente. Ambos têm uma imagem negativa
da escola e dos professores, o que não ajuda nada o desempenho do filho. A escola que ature o filho, porque
ela (a mãe) tem a sua vida.
A diretora de turma – confessa a mãe
– está sempre a chateá-la para que vá à escola falar com ela.
Reconhece que o filho é muito nervoso e tímido e que os professores não têm
sabido levá-lo com jeito. Quando ele está mal disposto, não obedece a ninguém e
não vale a pena insistir.
Disgráfico e disléxico
Todo o traçado da escrita manual se torna menos natural
para o esquerdino, uma vez que este empurra a esferográfica em vez de a puxar,
o que de certo modo entrava o movimento cursivo. O sentido natural da escrita de um esquerdino deveria
ser da direita para a esquerda. A
realização de movimentos no sentido oposto, ao que lhe seria mais
favorável, cria-lhe confusão e acrescidas dificuldades na própria estruturação
do espaço. Por isso, em situações normais, os esquerdinos não escrevem tão bem
como os destros.
É, pois, necessário, desde o início da aprendizagem,
estar atento às inversões e à escrita especular. A reeducação da
escrita é sempre um processo muito moroso, e consiste essencialmente na
associação dos fonemas mais confundidos aos grafemas correspondentes, fazendo sempre
apelo à atenção e ao raciocínio.
A disgrafia anda associada à dislexia. Esta precisa de ser tratada
com um método de ensino apropriado, após uma despistagem atempada e oportuna,
não demasiado cedo nem tarde demais. Deve ter-se presente que no início da
escolaridade quase todas as crianças fazem inversões e confusões, que acabam por desaparecer com o
tempo.
O disléxico
apresenta um gesto gráfico lento, muitas vezes, cortado, podendo entrar em
contacto anguloso com a linha. Apresenta má coordenação ou cria espaços
irregulares entre as letras e as
palavras. Surgem retoques e emendas abundantes, devido a dificuldades
ortográficas e à deficiente aprendizagem da escrita.
No que respeita a forma, a escrita dos disléxicos apresenta pouca
originalidade, sem complicações nem floreados, porque a falta de domínio do ato
de escrever não lhe permite grande liberdade.
Este aluno apresenta evidentes sintomas de dislexia, pois, ao ler um texto simples e pequeno, confunde as palavras por com pois, pois com pôs, rapaz por capaz.
Afonso Henrique Maça Sousa
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